Contra argumentos, não há fatos!

Caro leitor, dificilmente você passará pela vida sem dizer, ou pelo menos ouvir, a frase “contra fatos não há argumentos”; esta frase é tão difundida na sociedade, ainda mais nas discussões maritais, que é difícil encontrar alguém que saiba que foi Santo Tomás de Aquino o primeiro a proferi-la. 
Sto. Tomás de Aquino

Mas por trás desta afirmação reside uma verdade pouco apreciada por quem a diz. No artigo “Os moinhos de vento do comunismo”, que você pode ler clicando aqui, comentei sobre a realidade que teimosamente refuta os pressupostos psicóticos da ideologia marxista. Mas não se engane, minha crítica agora será para com os ‘meus’; com aqueles que partilham, grosso modo, as mesmas convicções conservadoras cristãs.

Uma das frases que mais venho repetindo (sobretudo para mim mesmo), é aquela de Aristóteles que diz “Sou amigo de Platão, mas sou mais amigo da Verdade”, pois nela está a práxis mais honesta e intelectualmente viável, o que implicará em autocorreções inevitáveis ao longo de nossa jornada espiritual e intelectual; o que nos libertará do viés aprisionador da ideologia, que nas palavras de Russell Kirk, é a oferta do paraíso religioso ainda em vida e a exclusão absoluta do post-mortem. Então, a ideia aqui é salientar que essas duas frases são complementares! Senão vejamos, imagine que seu celular estava sobre a mesa em sua casa e em um movimento descuidado, você o empurrou para a beirada e ele caiu. No entanto, menos de 1 palmo de distância de tocar o chão, ele simplesmente para no ar. Estarrecido, você sozinho, o observa, chega até mesmo a encostar o dedo no aparelho e o vê girar devagar no ar, contrariando todas as leis da física conhecidas pelo homem. Ele fica nesta situação por vários minutos, possibilitando todos os exames impulsionados pelo calor do momento, mas a única forma de gravar este evento extraordinário, é justamente o celular, não há câmeras de vigilância, nem câmeras de mão, sequer outros celulares. Mas ainda que houvesse alguma forma de registrar o momento, possivelmente alegariam as gravações ou fotos como fraudulentas ou duvidosas. E antes que você conseguisse chamar alguém, ele cai no chão "finalizando" o processo natural. Você analisa e constata que o aparelho continua o mesmo. Você tenta repetir o evento, mas ele cai direto no chão como pedra. A única testemunha que existe é você; não há outra fonte senão as tuas próprias palavras e você sabe, apesar de todo o deboche alheio, que aquilo efetivamente aconteceu e isto é um Fato, ainda que mais ninguém na história da humanidade creia em seu relato. Você terá duas opções: ceder à pressão alheia e supor que todos aqueles exames e verificações que VOCÊ FEZ estavam errados e que tudo aquilo que você viu, não aconteceu do jeito que VOCÊ PRESENCIOU. Ou, de outra forma, manter suas próprias convicções acerca do evento, pois foi um fato da realidade experimentado por você e que por mais inexplicável que seja, aconteceu. Ou seja, contra fatos não há argumentos e, se fossemos parafrasear Aristóteles para nosso exemplo, por mais ‘amigo’ que eu seja da física, sou mais amigo do que vi. Caso você não suportasse as risadas alheias e de uma hora para outra dissesse que todo o relato que você sabe ser verdadeiro, era uma mentira, então poderíamos propor uma nova frase: "Contra argumentos, não há fatos!". 

Eu sei que esse exemplo é absurdo e pode causar estranheza, mas qual milagre não tem justamente essas duas características intrínsecas? Claro, meu exemplo não se configuraria como um milagre em nenhum sentido da palavra, pois uma terceira característica intrínseca do milagre é o propósito, ou mensagem; nenhum milagre é fortuito. A pergunta que te proponho aqui é: Você está disposto a mudar suas ideias da realidade quando esta, “teimosamente”, apresentar-se de um jeito que seja contrário as tuas convicções? Caso sua resposta seja um categórico “NÃO”, aviso-te que não és diferente de nenhum ideólogo profissional.
A título de exemplo, podemos citar inclusive a teologia. Nenhuma concepção teorética de Deus pode abranger a essência mesma dEle, ou mesmo Sua ação efetiva no mundo. Explico. A teologia seria apenas algo descartável para alguém que, condenado pela medicina, foi curado de um câncer terminal depois de uma imposição de mãos por parte de um Padre ou mesmo de uma oração particular. Uma verdade muito incômoda é que a teologia – e aqui falo especificamente da teologia cristã –, trouxe muito mais confusão, sobretudo depois da reforma protestante, do que soluções efetivas; a reforma protestante ignorou os dez séculos anteriores de estudos sistemáticos realizado pela Escolástica e pela Patrística. O que vemos do estudo indiscriminado teológico subjetivo inaugurado na reforma protestante, foi o surgimento de inúmeras seitas, muitas vezes heréticas, o que posto ao lado das supostas benesses, percebemos que foi muito mais um desserviço ao Cristianismo. Para aqueles que tiveram uma experiência pessoal com Deus através dos Sacramentos ou dos milagres, a teologia apenas dará apenas uma descrição vaga deste Deus.

Devo ressaltar que não estou fazendo apologia da experiência subjetiva e "NADA MAIS". Não. O que deixo claro aqui, é apenas o caráter intransferível da experiência da realidade primeira, que deve ser o Norte pela busca da Verdade e não as nossas ideias sobre a realidade. Devemos ter uma noção do real sempre aberta as possibilidades contrárias de nossas próprias convicções, do contrário, cairemos fatalmente na ideologia que sempre se faz cega ao mundo que se apresenta, querendo, ao contrário, impor a realidade o que eles gostariam que nela acontecesse.

Enfim, elevando a ideia conservadora de não ter “a priori”, notei que a vida cristã e intelectual é exatamente assim: Não ter uma concepção pré-concebida. Sei que alguns filósofos  podem ficar enraivecidos, mas Immanuel Kant estava errado; entender o mundo como algo que depende exclusivamente de nossa visão subjetiva dele, é impor ao mundo que se adeque as nossas experiências, e não o contrário.

Faça-se esta pergunta, como eu me faço todas as manhãs: “Estou disposto a mudar minhas ideias tão preciosas? ” 

Comentários

  1. A verdade por Chesterton:


    A Reforma é panteísta e Kant, dois séculos depois, o seu filósofo.

    Na sua obra ‘’A religião nos limites da simples razão’’, ao início do capítulo ‘’sobre o fio condutor da consciência nos assuntos da fé’’, Kant torna-se o campeão do determinismo: a consciência do indivíduo torna-se o imperativo absoluto, ou seja Deus ele mesmo (a consciência), completamente separada da vontade da pessoa, que é passiva, impotente.
    As consequências são trágicas:
    -não há livre escolha
    -a verdade e a justiça estão à mercê da consciência do indivíduo
    -o que é bom para uns pode ser mal para outros
    -se não há distinção entre Bem e Mal não pode haver responsabilidade

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